Feb 14, 2012

Recomendações para inovação em governo

Estava pesquisando e relendo alguns posts interessantes. Resolvi postar este publicado por Álvaro Gregório no Blog iGov Brasil
Boa leitura!

O Governo da Austrália é um dos mais adiantados em termos de inovação. Assertivo e bem estruturado, desde o conceito de inovação em governo, até os métodos de implantação nas agências governamentais, amplamente abordados no relatório Innovation in the Public Sector, os australianos tem contribuído muito como exemplo de governança em inovação.

Para o governo australiano não existem dúvidas quanto aos desafios da gestão pública neste século:

"Os governos e serviços públicos em todo o mundo estão lutando com questões muito complexas, como mudanças climáticas, preocupações com a segurança, crises econômicas e os desafios da saúde, como obesidade e diabetes, para citar apenas alguns. Fazer progressos nessas áreas requer, entre outras coisas, procurar maneiras melhores e mais inovadoras para realizar nossa missão de serviço público... Cada vez mais, os governos estão à procura de soluções inovadoras para esses problemas complexos, que exigem conjuntos complexos de competências, estratégias de comunicação inovadoras e níveis sem precedentes de cooperação entre os cidadãos, comunidades e governos."

Com a publicação de outro relatório, o Empowering change: Fostering innovation in the Australian Public Service, considero que temos o mais completo guia de inovação em governo publicado até este momento. Do relatório, que inclui um apêndice de cases internacionais, retiramos, além do parágrafo acima, doze recomendações destinadas a apoiar o governo que pretende inovar em processos, serviços e políticas, agrupadas em cinco categorias e a seguir adaptadas para serem reproduzidas por qualquer governo.

Estratégia e Cultura
Recomendação 1
A inovação precisa fazer parte do pensamento estratégico dos órgãos governamentais e inserida em seu planejamento. Para implementar uma cultura de inovação os órgãos devem incluir no plano as estratégias para identificar e buscar soluções inovadoras. Um processo como a Abordagem de Três Horizontes é um exemplo de como isso pode ser iniciado:

Horizonte 1- Qual é o core business do órgão? O que é necessário para conduzi-lo agora e em quais áreas poderia ser simplificado, reduzido ou interrompido com melhorias e inovação?
Horizonte 2- Quais são as áreas emergentes do órgão? Quais recursos e capacidades serão necessários para abranger as áreas e em que prazo? Algumas das áreas de trabalho emergente podem impulsionar a mudança e inovação? em caso afirmativo, quais são as prioridades de inovação?
Horizonte 3- Olhando para o futuro, quais são os grandes problemas ou oportunidades? Existem resultados de inovação viáveis que possam reduzir a incerteza ou risco de problemas futuros?

Recomendação 2
O fluxo de informações facilita a inovação é a chave para uma maior inovação no governo. Embora sempre haverá algumas restrições sobre o compartilhamento de informação no setor público, o governo deverá adotar uma cultura de transparência na elaboração e execução da política governamental.

Isto exigirá uma mudança de paradigma na abordagem de muitas agências de desenvolvimento, onde grande parte das novas idéias é feito em um clima secreto. Em particular, deve adotar práticas inovadoras e de uma maior abertura para o desenvolvimento de novas propostas políticas, através de reformas, tais como:
introdução de consultores externos no processo do desenvolvimento de políticas
consulta de processos transparente e open innovation
rever a justificativa para as restrições de dados, visto que uma maior disponibilidade de dados vai impulsionar a inovação
identificar os riscos associados com um projeto inovador e como ele será gerido
incluir a análise do processo na avaliação do programa e nos resultados de entrega.


Recomendação 3
Uma característica específica do ambiente do setor público é o risco político e sua gestão. Para facilitar a inovação, especialmente quando a inovação é radical ou em larga escala e onde os riscos são altos, os governos devem identificar e gerenciar ambientes de risco para permitir o surgimento de abordagens inovadoras. É uma recomendação de identificação e controle.

Liderança
Recomendação 4
Liderança é um fator crítico na criação de um setor público mais inovador. A construção de uma cultura de inovação no setor público requer liderança apoiadas por:

ferramentas adequadas e treinamento focado na implementação
usar a inovação como um critério na liderança, no recrutamento e na gestão de desempenho
identificação dos objetivos do órgão para a inovação de desempenho
relatório anual do desempenho da inovação pelos órgãos
apoio às comunidades de prática (grupos de profissionais que exploram temas comuns) dentrodas Secretarias e entre Secretarias
incentivo às abordagens da equipe para resolver problemas de forma criativa, incluindo os agentes externos, clientes/cidadãos e fornecedores
facilitar a abertura a novas idéias e influências através de programas de intercâmbio de pessoal
identificar os ativistas da inovação para projetos ou problemas específicos.
Recomendação 5
O setor público não tem os condutores da inovação competitiva, como acontece no setor privado. Portanto, é necessário adotar uma abordagem mais pro-ativa para incorporar a inovação em suas operações.
Para facilitar a adoção de práticas inovadoras, os órgãos podem se basear na Caixa de Ferramentas de Inovação para contratar pessoal e construir conhecimento e experiência no processo de inovação.
A Caixa de Ferramentas de Inovação, que temos aqui alguns fundamentos em português, estabelece as abordagens que os órgãos podem adotar para capitalizar as oportunidades de inovação e, ao longo do tempo, incorporar uma cultura de inovação dentro da organização.

Questões estruturais
Recomendação 6
As barreiras sistêmicas para a inovação devem ser desafiadas de uma forma transparente e igualmente sistêmica.Existem modelos que poderiam ser adotados e que são utilizados dentro do governo e do setor privado.

Recomendação 7
Processos de financiamento podem funcionar como um contra-incentivo à inovação, uma vez que transfere todos os riscos para a agência de inovação que tomou o financiamento.


Recomendação 8
Colaboração e experimentação são dois elementos essenciais para a realização da inovação. Para inserir estes no setor público, o órgão deve elaborar um programa de experimentação de colaboração, inspiradas no MindLab dinamarquês, para desenvolver soluções e testes para os problemas, nomeadamente nos domínios da política e prestação de serviços.

A atividade principal no âmbito deste programa será o desenvolvimento e implementação de projetos-piloto de colaboração e ensaios.

Recursos e gestão da inovação
Recomendação 9
A tecnologia está remodelando interações públicas com empresas e governo e aumentando as expectativas do público para o engajamento e prestação de serviços. Para atender a estas expectativas, os órgãos devem, de forma oportuna e inteligente, adotar:
As abordagens e Ferramentas da Web 2.0
Sistemas de Gestão de Idéias

Na Austrália existe o trabalho do Govern 2.0 Taskforce que fornece orientações essenciais e recomendações sobre questões de Web 2.0.

O Governo de São Paulo, por exemplo, desenvolve a iGovSP com propósito bastante semelhante.

Recomendação 10
Contratos podem promover soluções inovadoras para os desafios do setor público.

É recomendado que os órgãos, ao efetuarem compras e cotações, visem também facilitar soluções inovadoras, centrando-se nos resultados, ao invés de especificações, adotando as seguintes posturas:
ser aberto com os fornecedores potenciais sobre o que o órgão está tentando alcançar e por quê.
envolver-se com o mercado antes de iniciar o processo de contratação, para identificar o problema a ser resolvido e avaliar o que o mercado pode oferecer.
criação de um portal seguro para a recepção de propostas não solicitadas, em que os fornecedores em potencial podem sugerir propostas inovadoras, sem arriscar a perda de propriedade intelectual ou vantagem competitiva.
Recomendação 11
Para defender a liderança do pensamento, formação e coordenação da ação inovadora, e manter a excelência em cima da inovação no setor público, o órgão responsável pela criação, ação e condução de programas inovadores deve incluir:
criação e manutenção de um website sobre inovação, para apoiar os programas dos órgãos e oferecer conhecimento aos funcionários públicos
formalização e apoio à inovação do setor público, criando e ajudando a criar comunidades de prática.
Reconhecimento, compartilhamento e aprendizagem
Recomendação 12
Para a divulgação e difusão de inovações, os órgãos e suas agências do Estado devem criar mecanismos para reconhecimento dos esforços de inovação, incluindo:
apoio e desenvolvimento de uma rede de inovação no Setor Público, para criar um intercâmbio de conhecimentos e recursos de inovação;
conferência anual de inovação do setor público, reunindo profissionais de inovação deste segmento para partilhar experiências de processos de inovação e seus resultados;
prêmios (possivelmente em conjunto com a conferência) para a inovação no setor público, que reconhece os esforços inovadores de indivíduos, equipes e departamentos. Outro exemplo paulista é o Prêmio Governador Mário Covas de Inovação; e
parceria com a academia para estudar e compartilhar aprendizados sobre a inovação no setor público.

É muito nítido o plano de inovação em governo da Austrália e novamente recomendo sua leitura, acessando aqui. O documento ilumina o caminho para aqueles governos, e não são poucos, que já entenderam a necessidade de mudança, mas talvez ainda não perceberam para onde e com qual objetivo.

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