Já está disponível a versão para smartphones do ProDeaf, um aplicativo de dicionário e tradução para a Linguagem Brasileiras de Sinais (Libras). Além das funções de tradução de palavras e pequenas frases, a plataforma permite a criação de conteúdo em Libras, assim como os usuários podem acrescentar vocabulário, com novos sinais. Os desenvolvedores de serviços de interesse público podem acrescentar acessibilidade a suas aplicações, sem custo de licenciamento. “A tecnologia é fornecida gratuitamente, para promover a inclusão”, afirma João Paulo Oliveira, diretor da ProDeaf.
Conforme os decretos 5.296/2004 e 5.626/2005, instituições financeiras, serviços públicos e outras áreas de interesse coletivo devem prover atendimento e recursos de acessibilidade a surdos. Essa parcela da população é dimensionada, pelo IBGE, em 10 milhões de cidadãos. Parte desse público é capaz de se comunicar exclusivamente em Libras e tem dificuldade com o português escrito (cujo aprendizado precisa da referência fonética). O tradutor do ProDeaf converte os textos de websites, a locução de vídeos e outros conteúdos em sinais feitos por um avatar. Isso economiza horas de trabalho e de estúdio que seriam necessárias para um intérprete humano fazer a tradução, além de permitir a atualização imediata para todos os leitores, em português ou em Libras.
Nos casos dos surdos que disponham de um smartphone com o ProDeaf, um SMS, por exemplo, traduz o texto para Libras. O funcionário de atendimento, que tenha um computador, tablet ou smartphone com o software, pode falar expressões ou pequenas frases e mostrar a tradução do avatar.
João Oliveira informa que uma das principais linhas de desenvolvimento hoje busca acrescentar a tradução reversa, de Libras para português. “Estamos fazendo experiências com a Knect [interface de reconhecimento de gestos, feita originalmente para games] e devemos ter resultados ainda neste ano”, diz. Ele acrescenta que a plataforma inclui um editor de sinais, para que os usuários acrescentem novos vocábulos – a câmera captura os gestos, que são “ensinados” ao avatar.
A ProDeaf foi criado por um grupo de Ciência da Computação da UFPE. Atualmente tem apoio da Wyra, aceleradora de startups do grupo Telefonica, que hoje é sócia da empresa. A distribuição gratuita do aplicativo conta com recursos da Bradesco Seguros, a primeira instituição a incorporar o ProDeaf em seus canais online. O ProDeaf também havia ficado em segundo lugar na Imagine Cup, uma competição internacional promovida pela Microsoft, que passou a ser parceira com sua infraestrutura de nuvem (Azure) e tecnologias de base.
Desafios no setor público
“Imagine se você está na Arábia, passa mal e precisa explicar os sintomas ao médico ou comprar um remédio. É exatamente a barreira que sentimos em nosso próprio país”, compara Marcelo Amorim, mestre em Ciência da Computação e surdo de nascença. Ele explica que o português é a segunda língua para os surdos, e nem sempre dominada pelas barreiras no aprendizado.
João Oliveira diz que ainda não há nenhuma articulação com governos de quaisquer instâncias. Ele esclarece que a “camada de tradução” pode ser agregada com tecnologias Flash, para web, ou HTML 5, para smartphone.
Em setores como Saúde, postos de atendimento ou web sites de serviços públicos, o ProDeaf pode disponibilizar imediatamente um “intérprete” virtual para estabelecer a comunicação. Em Educação, todavia, a aplicação da ferramenta envolve estratégias que precisam ser bem estudadas e definidas pelos especialistas em pedagogia e inclusão.
Entre os grandes países do mundo (em território), o Brasil se diferencia por ter um idioma que, além de oficializado em lei, é comum a praticamente toda a população. Nesse contexto, respeitar o idioma Libras não significa que se pode prescindir da alfabetização em português. Portanto, não se poderia, por exemplo, simplesmente traduzir o material didático para Libras e manter o aluno monoglota. Todavia, a Libras pode servir como um forte apoio ao alfabetizador.
É fundamental lembrar que Libras é um idioma, não simplesmente uma mímica ou uma representação das palavras em português, o que implica treinamento para os educadores, mesmo com todas as facilidades do software. Há ainda correntes de linguistas e pedagogos que enfatizam a necessidade de acostumar os alunos surdos à leitura labial.
Mais informações sobre o aplicativo, e o link para download, podem ser obtidos em: http://www.prodeaf.net/
No comments:
Post a Comment
Bia Lanza agradece o seu comentário.